Quando se fala em África do Sul, imediatamente pensamos em Nelson Mandela, representante do movimento anti-apartheid e reverenciado no mundo inteiro por sua luta pela paz. Ultimamente, no entanto, em tempos de Copa, o assunto tem sido as ensurdecedoras vuvuzelas, que deverão invadir os estádios africanos.
Mas a África é muito mais do que Mandela e a vuvuzela. O país sede da Copa do Mundo se assemelha ao Brasil pela sua grande diversidade cultural. A mistura de costumes vinda de vários países também se reflete em sua cozinha. Entram neste caldeirão influências gastronômicas de países como Alemanha, Holanda, Inglaterra, França, Índia e, claro, da própria África.
Pratos como o Braai (carne grelhada), uma herança holandesa, e o Bunnychow (pão recheado com feijão e chilli), influência dos indianos presentes na costa leste, estão entre os mais típicos. A rabada tem o nome de Oxtail e faz referência à culinária africana. Na mesa dos sul-africanos há bastante milho, arroz e dobradinha, além do espinafre refogadinho. E nos restaurantes o chá da tarde ao estilo inglês é facilmente encontrado. Apesar dos peixes serem mais populares, o churrasco Braai também é indicado para o cardápio dos turistas que vão visitar o país.
O tempero-chave da maioria dos pratos é o curry, mistura de açafrão-da-índia (curcuma), cardamomo, coentro, gengibre, cominho, casca de noz-moscada, cravinho, pimenta e canela. Aliás, os condimentos são uma atração à parte nesta culinária quente, principalmente no prato Bobotie, o preferido de Nelson Mandela. O Cyber Cook adaptou o prato ao nosso paladar. Veja aqui a receita.
E para a sobremesa, a boa pedida são os quase bolinhos de chuva regados de história. Tratam-se dos Koeksisters, embebidos em uma mistura de mel e canela. O docinho foi servido com chá a Mandela e Betsy Verwoerd, viúva do maior defensor do Apartheid, HF Verwoerd, para selar a reconciliação da nação sem a segregação racial.
Na época do Menu Confiança, o Claude Troisgros fez uma série de programas sobre a África do Sul. Segue relato do chef:
“A gastronomia tem raízes nas cozinhas de diferentes colonizadores que passaram por ali ao longo da história. A presença da cultura francesa é uma das mais marcantes e trouxe benefícios à culinária local. Em 1688, um grupo de protestantes refugiados, os huguenotes, instalou-se na zona vinícola hoje conhecida como Franschooek (Esquina dos Franceses). Trouxeram conservas e as técnicas de cultivo da uva na produção de vinhos.
No fim do século XVIII, foi a vez dos ingleses ocuparem a península, quando passaram a dominar as navegações na região. Vem desse período o hábito de servir geléias de frutas e molhos com carnes de caça e porco. Ao repertório de sobremesas, foram incluídos tortas e pudins quentes. A culinária na Península do Cabo mescla essas influências. Os pescados, fartos na extensa costa, são explorados em todos os cardápios. As técnicas européias valorizam seu preparo e a herança malaia torna as receitas coloridas, quentes, condimentadas e especialmente aromatizadas pelas especiarias.
Dicas de restaurantes
A verdade é que minha agenda de viagem voltou repleta de indicações de bons restaurantes, das quais destaco algumas e divido com o leitor a seguir, para o caso de uma viagem ao País. Eu diria que uma bela forma de começar uma imersão na cultura local é visitar o Victoria & Albert Waterfront, um centro de entretenimento na zona portuária de Cape Town, repleto de bares, restaurantes e hotéis de luxo, onde o mercado de alimentos é abastecido pela rica oferta de pescados e especiarias. Frutos do mar como lagosta, camarão, polvo, lula, ostra, mexilhão e inúmeros peixes locais - como kingklip, pescado em águas profundas, carne muito branca e sabor delicado, que está em todos os cardápios na cidade, fazem bonito.
Kingklip
Para quem deseja provar a típica comida africana, um dos mais recomendados é The Africa Cafe. Funcionando em uma antiga casa do Centro, tem ambiente alegre e informal, onde a arte e a cultura africana se traduzem na música, nas pinturas de parede, luminárias, toalhas e louças decoradas. Ali encontram-se pratos de todo o continente africano. A refeição é servida numa espécie de degustação em que todos os pratos são colocados à mesa, em cumbucas, para serem partilhados pelos clientes. É um verdadeiro banquete, que inclui uma seleção de dezesseis itens, além de sobremesa. Destaque para os "tunisian riouats" - deliciosos pastéis de massa phyllo recheados com cebola e batatas crocantes. O ethiopian iab é um dip de queijo coalho e ervas frescas.
Ainda ficam sugestões de alta gastronomia como o restaurante da chef Margot Janse, no Relais & Chateaux Le Quartier Français (Franschooek); o 95 Keerom, em Cape Town (chef: Giorgio Nava); Auberge Michel, Johannesburg (chef: Frederic Leloup) ; Bosman's, Cape Town (chef: Frank Zlomke); La Colombe, Cape Town (chef: Franck Dangereux) ; Reuben's, Cape Town (chef: Reuben Riffel), entre tantos outros maravilhosos."
Vinho africano
A história do vinho na África do Sul data de 1652. Jan van Riebeeck fundou o posto de abastecimento da Companhia das Índias no cabo da Boa Esperança e, pouco depois, mandou vir da Europa algumas cepas, convencido de que se bebessem vinho os marinheiros sofreriam menos com o escorbuto. Em 2 de fevereiro de 1659, ele escreveu em seu diário: “Hoje, louvado seja Deus, o vinho das uvas do Cabo escorreu pela primeira vez”. Simon va der Stel, seu sucessor no governo e também conhecedor de vinhos, plantou suas primeiras vinhas em Constantia com a ajuda de refugiados huguenotes franceses, experientes em viticultura e vinificação. Desde então, a indústria não cessou de prosperar. Após o fim do apartheid, o mercado sul-africano de vinhos pode enfim se abrir para o mundo e estabelecer relações comerciais com nações que até então boicotavam o país.
As principais zonas vitícolas da África do Sul situam-se a sudoeste da Cidade do Cabo. Mais ao norte existem várias zonas isoladas, ao longo do rio Orange.
Fotos da região de Stellenbosch
Tradicionalmente, a África do Sul é o país dos vinhos brancos. As principais cepas são Steen, nome local da Chenin Blanc, Colombard, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Hanepoot ou Muscat d´Alexandrie e Cape Riesling, que é na origem a cepa Crouchen Blanc, oriunda do sudoeste da França. Entre as cepas tintas mais importantes estão Cabernet Sauvignon, Pinotage, uma combinação de Cinsaut e Pinot Noir criada em 1926, Syrah (Shiraz), Merlot, Cabernet Franc e Pinot Noir.
África também produz cerveja
No ramo das cervejas, também é um país com predominância de lagers de macro-cervejarias, como o Brasil, com destaque para a South African Breweries (SAB). Fundada em 1895, começou a produzir sua marca Castle Lager na cidade mineira de Joanesburgo. A empresa logo se tornou a maior cervejaria do sul do continente africano. Em 2002, a SAB comprou a Miller Brewing, nos EUA, e como SAB-Miller se tornou uma das maiores empresas globais do setor de bebidas. A cervejaria mantém o SAB World of Beer, atração turística que ganhou o "Welcome Awards" de 2009 como atração Número 1 da África do Sul.
Para saber mais sobre essa e outras cervejarias africanas, veja abaixo os posts do blog da Acerva Mineira.
The SAB World of Beer
Sorghum Beer - A Taste of África
Mitchell's Waterfront Brewery - Scottish Ale House
Hops Hollow - Africa's Highest Brewery
Fontes:
Claude Troisgros
Cybercook
O Livro da Cerveja
Larousse do Vinho
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